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Jornal i: "Mortes por suicídio e agressão aumentaram em 2012"

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Pelo terceiro ano consecutivo houve mais mortes por suicídio do que na estrada. Vinte pessoas com mais de 90 anos puseram fim à vida

"As mortes por suicídio e agressões aumentaram no ano passado. Dados do Instituto Nacional de Estatística disponíveis desde segunda-feira revelam que estas são as duas causas de morte por motivos que não doença cuja tendência de diminuição foi interrompida em 2012, ao contrário do que se verifica em intoxicações acidentais, quedas ou afogamentos.

Os suicídios aumentaram 5% em relação a 2011, sobretudo na faixa etária dos mais jovens e dos idosos. O total de 1076 mortes por esta causa, mais 58 que no ano anterior, faz com que 2012 tenha sido o terceiro ano em que estas vítimas superaram as dos acidentes rodoviários. Houve 121 pessoas que morreram vítimas de agressão, mais 22% que em 2011.

Dados mais detalhados fornecidos ao i revelam que os casos de suicídio aumentaram sobretudo na faixa etária dos 20 aos 40 anos anos e acima dos 60 anos. Em 2012 repetiu-se ainda uma tendência que já vem desde 2010, com o aumento dos suicídios acima dos 90 anos: em 2012, 20 nonagenários suicidaram-se.

Na análise dos dados do suicídio, os especialistas mostram-se sempre muito cautelosos. Por um lado, os dados do INE apresentam um número elevado de mortes violentas em que não é possível determinar a intencionalidade. Alguns especialistas admitem que estes óbitos poderão aumentar a realidade do suicídio no país, dado que como não é obrigatório a autópsia e a investigação, muitos casos mais dúbios podem permanecer inconclusivos. Em 2012, segundo o INE, houve 1021 mortes em que se ignora se foram acidentais ou intencionalmente infligidas.

Álvaro Carvalho diz que face a uma realidade de subnotificação, que espera que venha a ser resolvida com os certificados de óbito electrónicos, não é por agora possível retirar grandes conclusões de variações no número de mortes por suicídio. Já Jorge Costa Santos, presidente da Sociedade Portuguesa de Suicidologia, diz que todas as interpretações devem ser cautelosas, sobretudo na associação entre aumentos de suicídios e efeitos da crise, mas também porque feita a média a um período de cinco anos os números têm permanecido relativamente estáveis. Os números de 2012 são superiores aos de 2011, mas neste ano tinham diminuído face a 2010. "Os estudos que temos para a realidade nacional apontam uma relação ténue no nosso país entre crise e suicídio", disse o especialista, considerando contudo vital reforçar os cuidados de proximidade na área da saúde mental. Uma das propostas concretas, que prevê que será feita no âmbito do Plano Nacional de Prevenção de Suicídio que ainda não foi complementado com os contributos da discussão pública que teve lugar no ano passado, pretende que o governo isente doentes com estados depressivos previamente diagnosticados do pagamento de taxas moderadoras, por entender que devem ser considerados grupos de risco. "Deviam beneficiar de um regime específico, dado necessitarem de visitas regulares ao médico de família ou a consulta hospitalar enquanto estão em tratamento e hoje poderem estar com barreiras ao acesso", diz.

Sobre o aumento das mortes por agressão, o total de 121 casos choca por agora com os dados reportados no Relatório de Administração Interna, que aponta para 149 participações por homicídio voluntário consumado em 2012. Estes dados revelados em Março ainda careciam de confirmação, que não ocorreu por poderem incluir outras situações. O Observatório de Mulheres Assassinadas da União de Mulheres Alternativa e Resposta, outra fonte de informação, contabilizou em 2012 40 casos de mulheres vítimas de violência, um aumento de 48% face a 2011 corroborado agora pelos dados do INE, que apontam para 41 vítimas do sexo feminino e 80 do sexo masculino, contra 34 e 65 no ano anterior.

João Lázaro, presidente da Associação Portuguesa de Apoio à Vítima, lamenta o desfasamento temporal na divulgação de informação global, que poderia ser utilizada para melhorar as estratégias no terreno. Ainda assim, diz que a percepção é que o contexto de crise poderá estar a inibir a procura de ajuda por parte de vítimas de violência continuada, por exemplo no meio familiar, onde ocorre uma fatia de 30% das mortes. (...)"

Fonte: Jornal i